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Ansiedade e depressão na previdência  

Consideradas as pandemias silenciosas após a COVID-19, a ansiedade e a depressão têm alcançado a passos largos cada vez mais na população do país…

 Consideradas as pandemias silenciosas após a COVID-19, a ansiedade e a depressão têm alcançado a passos largos cada vez mais na população do país.

São 18,6 milhões de brasileiros clinicamente ansiosos e 13,5% de deprimidos.

Culpa da pandemia? Ouso dizer que não. Ela apenas potencializou essas doenças.

Só em 2020 o aumento foi de 25% e o Brasil hoje é o ranking mundial, segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), atingindo todas as idades.

Mas se a culpa fosse da pandemia já estariam em queda esses números.

E o que tem isso a ver com a previdência?

A primeira coisa é entender que depressão e ansiedade não são tristeza momentânea que simplesmente tem tratamento pensando em algo bom. Metaforicamente, o humor – os transtornos mentais – são as estações do ano e as emoções são os climas diários. Você pode variar entre alegria, tristeza, medo ou raiva em um único dia, mas não consegue sair da depressão na mesma velocidade. 

Isso porque elas atingem a parte mais profunda do seu cérebro a ponto de não serem remediadas tão facilmente. São doenças e podem ser incapacitantes. Ou até fatais.

Sendo, portanto, incapacitantes, qualquer pessoa que seja segurada da previdência tem direito ao benefício por incapacidade caso esteja acometida por ansiedade ou depressão.

É que, para a previdência, o que importa é a incapacidade, independentemente da doença ou do acidente.

Além disso, a incapacidade pode ser física ou mental e confere direito inclusive ao Benefício Assistencial para quem não é segurado da previdência, mas que possui deficiência, considerada como impedimento a longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial que pode obstruir a participação na sociedade em igual condição das demais pessoas.

 

O interessado então deve se submeter a uma perícia pelo médico perito oficial e terá direito ao benefício. Temporário ou não.

Só que, por ser uma doença da mente e silenciosa, o reconhecimento do seu direito precisa ser devidamente comprovado. Tudo para evitar oportunistas de plantão.

Diagnósticos médicos, exames, receitas e qualquer elemento que comprove o estágio da depressão e ansiedade são benvindos para se conceder o benefício.

Mais de 200 mil pessoas são afastadas por ano do trabalho e recebem benefícios no INSS por transtornos mentais. E só vem aumentando.

O problema ainda é uma constante a ser desvendada, mas perpassa inevitavelmente por alguns fatores evolutivos e, obviamente, comportamentais. 

Desde as lições iniciais de Freud no início do século passado acerca do inconsciente, estudos sobre a formação da mente humana não param de avançar em diversos aspectos neurocientíficos e psicológicos.

Em 1974 dois psicólogos Israelenses estudaram a relação entre o cérebro automático e o reflexivo, aquele que você pensa mais. Eles concluíram que a maioria de nossas decisões diárias são tomadas de forma subconsciente para economizar energia; e não necessariamente de forma racional. 

Mas o que isso tem com a ansiedade ou a depressão?

Acontece que seu cérebro foi selecionado na natureza buscando e simulando riscos básicos de sobrevivência; a saber, água, comida, abrigo, sexo e tribo. Preocupar-se com o relatório de vendas, preferir sushi ou teriaki ou não responder whatsapp em poucos minutos é uma preocupação distante na escala das prioridades e se tornou um colateral negativo da capacidade do cérebro em resolver problemas. Abstração demais. Realidade de menos.

Estudos com pacientes que viam rostos ameaçadores sem perceber mostravam que os mesmos ativavam a área cerebral de memória aversiva, as amígdalas cerebrais. Ou seja, olhos viam, o coração sentiu, mas cérebro racional não soube disso. Estes trabalhos fundamentam que temos emoções inconscientes. 

Portanto muito cuidado com que seus olhos veem no celular ou televisão e com os moralismos dos ambientes pelos quais você transita. Seu cérebro é hipercomparativo e pode lhe levar a sensação de que está sempre atrasado e correndo riscos que não existem. 

Temos então os ingredientes de nossa avalanche patológica mundial de transtornos de humor. O século da psiquiatria.

A resposta imediata para isso parece ter sido os socorros médicos e assistenciais. E, pelo visto, a previdência tem feito sua parte, mas há um silêncio que pede socorro e ecoa bem mais alto que discursos calorosos beligerantes da internet. Gritos ainda não ouvidos porque seus causadores nos causam surdez.

Precaver é a palavra que norteia a previdência. Também deve nortear a luta contra essas doenças.

Estejamos ansiosos para que o Brasil progrida contra a ansiedade e saia desse nada virtuoso ranking mundial.

Autor

Ibraim Djalma

Formado em direito pela Universidade Federal do Maranhão, aprovado nos concursos pra procurador de fazenda nacional e procurador federal. Foi assessor no TRF1. Procurador Chefe do INSS do Maranhão e membro da Equipe Nacional de Consultoria de Benefícios. Professor de direito previdenciário, criador de um método dinâmico, prático e eficaz para o aprendizado do direito previdenciário. Apaixonado por musculação, leitura. Adora ensinar.

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