Pense em um deficiente!
Certamente você imaginou alguém de cadeira de rodas ou de muleta andando com uma só perna.
Isso se chama heurística da disponibilidade…
Pense em um deficiente!
Certamente você imaginou alguém de cadeira de rodas ou de muleta andando com uma só perna.
Isso se chama heurística da disponibilidade.
Seu cérebro recrutou tudo que você vivenciou ou ouviu falar sobre deficientes e colocou em pensamentos depois que foi provocado na primeira frase.
É uma percepção inconsciente sua que, com os gestos moldados a partir dela, geram a realidade.
Dificilmente você simulou um deficiente trabalhando em uma grande empresa, atendendo as pessoas ou ocupando um cargo executivo elevado, mesmo sabendo que a deficiência imaginada não possui qualquer restrição cognitiva para exercer essas funções.
E é justamente isso que o Estatuto da Pessoa com Deficiência quer combater. O pensamento automático de que todo deficiente é incapaz.
Porque a partir dessa compreensão, tudo que se desenvolve a respeito deles muda.
Por mais que se diga o contrário, muitas legislações do país são dignamente avançadas, como o Estatuto do Idoso, a própria Constituição Federal de 1988 e a Lei nº 13.146/1015, o conhecido Estatuto do Deficiente.
E como sabemos, as leis são uma das tantas formas de moldar comportamentos sociais. Ou de pelo menos estimulá-los.
E elas tratam a deficiência de uma forma e a invalidez de outra totalmente diferente.
No estatuto, seu propósito foi além dos dias atuais em que pensamos o deficiente como incapaz e pretendeu inserir na sociedade o hábito de reconhecê-los capazes, inclusive de trabalhar e exercer diversos papéis outrora ofuscados pelo pensamento enraizado de que seu lugar é só do outro lado, recebendo ajuda.
Mas não se culpe.
Essas convicções foram gestos involuntários formados a partir de bombardeios midiáticos que, de propósito ou não, anunciam o deficiente somente como o coitado que merece respeito e compreensão.
Evidente que merecem tudo isso. Mas vamos mais além.
O passo seguinte é mudar a compreensão.
Muitos deficientes são capazes de fazer praticamente tudo que os não deficientes fazem, com apenas alguns obstáculos que, se medidos na régua, não impactam em nada na sociedade.
É por isso que a nova lei previu a manutenção de pensão por morte para deficientes mesmo que exerçam atividade remunerada, a aposentadoria especial da lei complementar n.142/13 e o benefício assistencial do auxílio-inclusão, destinado para os que trabalham.
Na previdência o portador de deficiência tem benesses que vão desde o percentual de 100% da pensão por morte até aposentadoria sem idade mínima e com menos tempo de contribuição. Mesmo não sendo inválidos, já que a aposentadoria pressupõe o trabalho.
Todos estimulantes do seu ingresso no mercado de trabalho e, portanto, na sociedade.
As leis notoriamente avançaram nesse assunto. Mas o nosso pensamento automático ainda não.
Eis o elemento que ainda precisa de cura.
O ponto de partida de nossos pensamentos e gestos deve dissociar o deficiente da incapacidade e não mais encará-lo como alguém que precisa de ajuda passiva, mas do reconhecimento de que são igualmente capazes, a partir de nossas ações diárias que se transformarão em hábitos e, com isso, em pensamentos automáticos de que a sua limitação não pesa mais que a capacidade colaborativa.
Romper paradigmas muitas vezes significa isso; resignificar pensamentos que sequer sabemos como foram gerados, mas que precisam de maturidade para evoluir.
Pensar nos deficientes não é reduzirmos a encontrar a cura para suas limitações físicas ou mentais.
É enxergá-lo sentado do mesmo lado da mesa.
Além da cura.
Autor
Formado em direito pela Universidade Federal do Maranhão, aprovado nos concursos pra procurador de fazenda nacional e procurador federal. Foi assessor no TRF1. Procurador Chefe do INSS do Maranhão e membro da Equipe Nacional de Consultoria de Benefícios. Professor de direito previdenciário, criador de um método dinâmico, prático e eficaz para o aprendizado do direito previdenciário. Apaixonado por musculação, leitura. Adora ensinar.
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